HISTÓRIA RESUMIDA DO CLUBE DOS DEMOCRÁTICOS
ORIGEM
Para entender a origem do Clube e do Carnaval Carioca. É necessário recuarmos a mais de um século da vida do Brasil ou mais propriamente na do Rio de Janeiro. 1853. Segundo Império. Contudo, a feição da Capital era ainda a de uma cidade típica colonial. A topografia irregular, ruelas estreitas, sinuosas, com valas para águas pluviais no centro, de terra batida a maioria, lajotas de pedras nas estreitíssimas calçadas, casas e lojas de andar térreo, raros sobrados, lampião de querosene e os primeiros bicos de gás, animais soltos no centro da cidade, sujeira, escuridão, vícios, crimes, escravos, febre amarela, malária e outras “belezas” da época.
Pois imaginem esse ambiente mais do que impróprio, durante a loucura do Carnaval. Então, era o “Reinado do Entrudo”, com seus limões de cheiro e de mau cheiro, bisnagas de águas perfumadas, bacias de água suja, polvilho, vermelhão, alvaiade, banhos forçados nos chafarizes e suas consequências desagradáveis. Tudo uma estupidez, brincadeira bruta que não raro terminava em resfriados, pneumonias, ferimentos e até mortes, devido aos poucos recursos médicos de época e policiamento.
Pela Portaria de 4 de Fevereiro de 1853, assinada por Mendes da Costa, fiscal da Freguesia da Candelária, conforme cita Melo Morais Filho, começou um ataque sistemático e oficial contra a selvageria do entrudo. Só no ano seguinte desapareceu das ruas cariocas, modificando completamente o tríduo carnavalesco. Incentivaram-se os bailes a fantasia; apareceram as primeiras máscaras isoladas inspiradas no Carnaval de Veneza trazidas por estrangeiros e surgem os primeiros grupos; alguns carros ostentavam gente fantasiadas e, enfim, organizada a primeira sociedade que tomou o nome de “ Congresso das Sumidades Carnavalescas” que em 1855 realizou o primeiro préstito do Rio de Janeiro. Nada de carro alegórico ou de críticas apenas alguns landaus, algumas caleças, tiradas a duas parelhas, cheias de foliões, cada qual caracterizando segundo o próprio desejo e gosto, num amontoado desordenado de figuras históricas. D Quixote, Nicolau I, Dugay Trouin, Marco Spada, Baiadeiras, Mandarins, Bevenuto Cellini, o Duque de Dulse, Dr. Dulcâmara, foram alguns do tipos focalizados. O sucesso foi grande, repetindo-se nos anos seguintes e estimulando a criação de outras sociedades, desaparecidas posteriormente a maioria e algumas persistindo e entre estas últimas, merece destaque o Clube dos Democráticos; não é o mais antigo mas que funciona ininterruptamente até hoje.
NASCE O CLUBE
Era 15 de agosto de 1866, dia de Nossa Senhora da Glória. A população do Rio de Janeiro preparava a festa maior do Bairro do Flamengo, onde, até os dias de hoje, reverenciamos a nossa Padroeira.
Na Rua do Ouvidor, era só frenesi, o centro nervoso das discussões políticas, dos movimentos: abolicionista e republicano, e, principalmente, a reverencia do povo aos jovens oficiais da Marinha e do Exército Brasileiro que, acabavam de chegar cobertos de glória dos campos de batalha da Guerra do Paraguai, eram alvos de atenção e dos suspiros apaixonados das jovens da sociedade carioca.
Foi nesse clima, na confeitaria e bar “Maison Rouge” concentração da sociedade da época, um grupo de boêmios, dentre eles, o Português José Alves da Silva compraram um bilhete inteiro de loteria, com o firme propósito, ou seja, se fossem agraciados com a sorte grande, fundariam um Clube Carnavalesco. Ao findar da tarde, eis o que acontece? A sorte grande fora tirada (15 conto de réis) uma fortuna na época.
FUNDADO EM 19 DE JANEIRO DE 1867.
Como promessa é dívida. Em 19 de janeiro de 1867, sob o comando de José Alves da Silva, e, influenciado pela ideias democráticas e republicanas que germinavam por toda nação brasileira, instalava-se sob um sobrado na Rua direita nº 5 (atual 1º de março), os “Democráticos Carnavalescos”, com o pavilhão quadrangular preto, branco verde e amarelo, com o “DC” no campo esquerdo.
PORQUE A PADROEIRA ?
Alcançado seus desejo, José Alves e seus companheiros escolheram Nossa Senhora da Glória como padroeira do Clube. Importou a imagem de Portugal sua terra natal, e, declarando que, todo dia 15 de agosto de cada ano, será promovida grande festividade em honra a nossa padroeira, fato este, vem acontecendo ininterruptamente desde sua fundação, até os dias de hoje.
OS DEMOCRÁTICOS E SUAS FINALIDADES
ATUAÇÃO NO MOVIMENTO DA ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA
Foi em suas novas instalações na Rua do Cano (atual 7 de setembro), que o Clube teve participação atuante no movimento pela abolição da Escravatura do Brasil. Em seus salões, foram realizados diversos encontros notórios abolicionistas dentre os quais José do Patrocínio o mais atuantes destes. Quando da luta pela Abolição da Escravatura, da Sacada do Democráticos em um de seus inúmeros discursos ao povo carioca exclamou: “ Deste Castelo, concito o povo a Abolição da Escravatura.”
ATUAÇÃO NA CAMPANHA REPUBLICANA
Nascido sob a égide da democracia os “Democráticos Carnavalescos”, pertence a todas as classes socias e não poderia ficar a margem da propaganda Republicana. Na luta que se travou contra a monarquia, seus salões destinados para bailes, folias de Momo e eventos filantrópicos, foi sempre um reduto de liberdade, e nele pontificaram artistas, literatos, políticos, militares. Ouviu-se as ferrenhas pregações de Benjamin Constant, José do Patrocínio, Lopes Trovão, e tantos outros, que gerou em 1870 o célebre Manifesto Republicano, peça principal do movimento. A Proclamação da República Brasileira foi um episódio da história do Brasil, ocorrido em 15 de novembro de 1889, que instaurou o regime republicano no Brasil, derrubando a monarquia do Império do Brasil, pondo fim à soberania do Imperador Dom Pedro II.
A Proclamação da República se deu no Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil, na praça da Aclamação, hoje Praça da República, quando um grupo de militares do Exército Brasileiro, liderados pelo Marechal Deodoro da Fonseca, deu um golpe de estado, sem o uso de violência, depondo o Imperador do Brasil, D. Pedro II, e o Presidente do Conselho de Ministros do Império, o Visconde de Ouro Preto.
Foi instituído, naquele mesmo dia 15, um "Governo Provisório" republicano. Faziam parte deste "Governo Provisório", organizado na noite de 15 de novembro, o marechal Deodoro da Fonseca como Presidente da República e Chefe do Governo Provisório, Marechal Floriano Peixoto como Vice-Presidente, e, como ministros, Benjamin Constant, Quintino Bocaiuva, Rui Barbosa, Campos Sales, Aristides Lobo, Demétrio Ribeiro e o Almirante Eduardo Wandenkolk, todos membros regulares da maçonaria brasileira.
ATUAÇÃO NA ÁREA FILATRÓPICA
José Alves da Silva e seus companheiros, não fundaram um Clube, apenas com a finalidade de festas e prática da boemia, havia um sentimento permanente de que, alguma ação tinha que ser feita a favor dos mais necessitados. Para isto, foi instituído um fundo de arrecadação para o “ Natal dos pobres”, quando da ocasião, as portas da entidade eram abertas para distribuição de alimentos e roupas a toda população carente.
A consoada do final de ano, sempre teve o mesmo propósito, atendes aos mais necessitados. Sempre manteve na vanguarda como referência aos anseios da toda comunidade em que esteve presente, inclusive, nas campanhas de cunho público e político, práticas estas, preservadas até os dias hoje.
ATUAÇÃO NA ÁREA SOCIAL.
Desde sua fundação o Democráticos abrigou a sombra de seu pavilhão o espírito da boemia, para tanto, a nossa domingueira dançante existe a quase um século e meio de atividade permanente. O evento em homenagem a padroeira Nossa Senhora da Glória, finalizando com um baile comemorativo existe desde a sua fundação. Nos idos de 1900, dentro do quadro social, existiam diversos grupos que formavam as alas do Clube, dentre elas, a dos Contrariados, Necessitados, Trancinhas, Malhadores, Príncipes, Pensionistas, Valetes, Philosophos, Sympathia, Boulangistas, Basilios, Veteranos e outros que promoviam exuberantes Forrobodós e Fandangassus, que eram exuberantes festas com danças maxixantes, polkas e valsa, com direito uma ceia a base de cozido e distribuição de brindes que só terminava com o nascer do dia. Existiam também, as festas arrecadadoras, promoção de pic-nics, festas de aniversários, casamentos, batizados e formaturas de diversas entidades educacionais, públicas e privadas.
ATUAÇÃO CARNAVALESCA
Foi em 1868, o ano seguinte ao da fundação que o Clube dos Democráticos saiu a Rua com o primeiro préstito. Começou a luta com outras sociedades carnavalescas para conseguir a vitória nas competições da folia. Foi iniciativa nossa o préstito com carro movimentado. Isto em 1897 ou 98 por obra do excelente artista italiano Carranzini. O préstito representava uma apoteose a República, e a novidade era constituída pelo movimento de duas rodas representando a fôrça. Neste ano o desfile desta alegorias, desfilando nas principais ruas da cidade, provocou um grande impacto e foi um sucesso que perdurou por várias décadas. A partir deste ano, tudo muda no carnaval Brasileiro, nascem as grandes sociedades tais como Embaixada do Sossego, Tenentes do Diabo, Os Fenianos e outras.
O Clube dos Democráticos apresentou os principais carnavais e préstitos, O Carnaval do Jubileu do Clube, em 1917, foi sem dúvidas o maior de todos. Ficou conhecido por “Carnaval da Praça Mauá”, devido estarem localizados naquele logradouro os barrações do clube. Quanto aos préstitos, os melhores foram os seguintes: “ O Guarani” - em homenagem aos nossos índios e a música de Carlos Gomes; “ Ave, Libertas” - apoteose a liberdade; “ Ninho das Águias”; “ Triunfo de Anfitrite”; “Os sete pecados”; “Independência”; “Abolição”; “Proclamação da República”; “Apoteose a mulher”; e a grande fantasia “ O Gato e o canário”.
Neste préstitos trabalharam grandes artistas, desde o inesquecível Carranzini, contamos com a primorosa contribuição de Hipólito Colomb, Jaime Silva, Publio Marroig, Angelo Lasary.
MUDANÇA DE SEDE
Depois da Rua Direita nº 5 ou 21 ( atual 1º de março) o Clube mudou-se para:
Rua do Hospício (atual Buenos Aires), em seguida para;
Rua do Cano (atual Sete de Setembro), em seguida para;
Rua do Cabo (atual Rua da Alfândega), em seguida para
Rua do Fogo (atual Rua dos Andradas) em seguida para
Rua do Passeio (onde se encontra hoje o Cine Metro Passeio), em seguida para;
Praça da Constituição (atual Praça Tiradentes), e,
finalmente o Presidente Vicente Alfredo Duarte Félix, adquiriu o terreno no caminho Mata Cavalo ( atual Rua Riachuelo 91/93), no qual o Presidente Alfredo Alves da Silva, contrata o arquiteto Sebastião Pereira de Albuquerque, e, sob seu projeto, constrói a atual sede cuja inauguração aconteceu em 20 de março de 1931.
RECONHECIMENTO
Campeão por várias décadas do Carnaval Carioca, na Categoria Grandes Sociedades, o Democráticos sempre foi alvo do carinho, elogios e reconhecimento através do poder público, da imprensa e da população carioca dos quais citamos algumas;
D. Pedro II, entusiasta pelo carnaval fazia questão de conclamar a população para esta festividade. Era fã incondicional do Democráticos Carnavalesco. A imprensa da época não cansava de enfatizar este detalhe. Nesta ocasião mandava acender todas as gambiaras de gás do Paço Imperial, e, somente se retirava quando da passagem de sua querida entidade.
Por ocasião da Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, a imprensa da época relata a atuação da entidade como uma das trincheiras em defesa do movimento.
Como prova, em 20 de Novembro de 1923, através do decreto 1910, foi criada a Avenida dos Democráticos no bairro de Bonsucesso em homenagem ao Clube dos Democráticos, como forma de gratidão da população da cidade do Rio de Janeiro, pelos serviços prestados nas áreas: cultural, política e filantrópica.
Em 18 de agosto de 1951, o Diário Popular na página nº 6 diz: “ Assim o tradicional Clube dos Democráticos, o da Águia Altaneira, não é mais um patrimônio particular, mas sim, um patrimônio da Capital da República”.
Em 08 de agosto de 1987, através do Decreto 6923 o Clube dos Democráticos foi tombado, desta forma, integrando-se ao patrimônio histórico da Cidade do Rio de Janeiro.
Bola Preta uma dissidência do Clube dos Democráticos
O grupo carnavalesco se originou em 1917, quando 18 ex-integrantes do tradicional Clube dos Democráticos se uniram sob a liderança de Álvaro Gomes de Oliveira, o “Caveirinha”, para formar o cordão “Só Bebe Água”, cujo logotipo trazia um barril de chope com 18 torneiras ligadas à boca de seus componentes. No dia 31 de dezembro de 1918, o grupo estava confraternizando em um bar no Centro, quando surgiu uma linda mulher vestida de branco com bolas pretas, e um deles falou: “Esse aí é o nosso nome: Cordão da Bola Preta!”.
Nas primeiras décadas de sua fundação, o Bola se instalou em diversos locais que eram alugados para funcionar no período de novembro ao Carnaval. Apenas na década de 1940, com a união dos diversos sócios bolapretenses, foi finalmente comprado todo um andar de um edifício na Avenida Treze de Maio para sediar a agremiação. A inauguração foi em 31 de dezembro de 1949 e a sede funcionou no local até janeiro de 2008, quando o prédio foi leiloado por questões judiciais. Mas o amor pelo Carnaval e pela honra do artigo terceiro de seu estatuto, que determina prazo ilimitado para sua duração e lembra que sua finalidade é incentivar o Carnaval carioca em todas as suas formas – artística, musical e cultural – fez com que o Bola continuasse sua missão, mesmo sem a tão sonhada sede.
Entre outros animados encontros festivos promovidos pelo Bola, entraram para a história os famosos Baile da Vitória e o Baile do Sarongue. A marchinha “Quem não chora não mama”, composta por Vicente Paiva e Nelson Barbosa, virou hino oficial e foi declarada pela prefeitura Patrimônio Cultural do Rio de Janeiro. Com a responsabilidade de Quartel General do Carnaval, o Cordão da Bola Preta foi a inspiração para o surgimento de centenas de blocos. Ao som de sua banda, que também anima os bailes na sede e até eventos privados, os desfiles arrastam multidões pelo centro da cidade no sábado de Carnaval, tendo atraído, em 2015, um público estimado em dois milhões de foliões.
Toda a história da Bola está exposta na nova sede, onde foi inaugurado o Centro Cultural Cordão da Bola Preta que, além do centro de memória, conta com sala de aula para formação de músicos, lojinha com produtos oficiais, salão de festas, boteco e restaurante. Vários eventos, como as feijoadas aos sábados, animam sócios e visitantes. A programação inclui frequentes festas temáticas, que podem variar do forró aos mais variados ritmos, sempre mantendo vivo o seu lema original: “Paz, amor e folia”.
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Na biblioteca municipal do Rio de Janeiro há um livro que conta algumas histórias do Clube dos Democráticos, o título é: "Figuras e Coisas do Carnaval Carioca" do autos: Jota Efege (João Ferreira Gomes).
Com o tempo, as ruas viam se multiplicar o número de sociedades, tais como a Euterpe Comercial e os Zuavos Carnavalescos. Muitas competições e dissidências aconteceram até surgirem 3 grandes Sociedades que se consolidaram no carnaval da época: Tenentes, Democráticos e Fenianos."
"Vem Cá, Mulata exaltava o Clube dos Democráticos e se transformou em sucesso carnavalesco nacional em 1907."
"A primeira referência ao maxixe ocorre num "puff'' de Carnaval do Clube dos Democráticos, publicado no "Jornal do Comércio'' em 4 de fevereiro de 1883, citado por Jota Efege"
A trilha sonora, compositor, letra e a história que enriquece nossa página foram cedidos por : www.geocities.com/aochiadobrasileiro
A letra e o compositor seguem abaixo:
Arquimedes de Oliveira e Bastos Tigre (1902)
Vem cá, mulata O Democráticos, gente jovial
Não vou lá, não Somos fanáticos do carnaval
Vem cá, mulata Do povo vivas nós recolhemos
Não vou lá, não De nós cativas almas fazemos
Sou Democrata Ao povo damos sempre alegria
Sou Democrata E batalhamos pela folia
Sou Democrata Não receamos nos sair mal
De coração E letra damos no carnaval
Gravada originalmente (com os versos de Bastos Tigre) na Odeon por Mário Pinheiro e Pepa Delgado, como gênero lundu (é provável que a gravação seja de 1906).
Sobre a música de Arquimedes de Oliveira, Manuel Bastos Tigre, escritor, humorista, crítico de jornal, poeta, publicitário e teatrólogo, escreveu os versos de Vem cá mulata em 1902.
A letra, como se pode observar, exalta uma das três maiores sociedades carnavalescas da época, o Clube dos Democráticos.
O sucesso da música, que se extendeu ainda por dois anos, incitou José do Patrocínio, Chicot e Thoreau a escreverem uma nova revista,Vem cá Mulata!, com musica de Luis Moreira. Estreou no Palace-Théâtre em setembro de 1906.
RUA DO RIACHUELO
Caminho da Bica e Mata-Cavalos.
Esta Rua começa na Avenida Mem de Sá e termina na Rua Frei Caneca. Bastante movimentada, a Rua do Riachuelo acha-se ligada ao bairro de Santa Teresa geográfica e historicamente em suas tradições. Do tempo em que era uma das mais importantes ruas da cidade. É área residencial e comercial ao mesmo tempo.
Na segunda metade do século XVI, as pedras jesuítas já possuíam dois engenhos de açúcar: o 'Velho", no local onde hoje se encontra a Igreja de São Francisco do Engenho Velho, na Rua São Francisco Xavier, e o "Novo", que deu o nome ao atual subúrbio de Engenho Novo.
O acesso a eles se fazia através de um caminho que, saindo dos Arcos, contornava o Morro do Desterro (hoje Morro de Santa Teresa) e atingia a Lagoa da Sentinela (compreendendo até o atual largo onde se cruzam a Avenida Mem de Sá, a Rua Frei Caneca e a Rua de Sant'Ana), procurando a antiga aldeia de Martim Afonso, o Araribóia. Daí, a trilha seguia rumo aos engenhos e a São Cristóvão. Por esse motivo recebeu, originariamente, as denominações de Caminho que vai para o Engenho Pequeno, Caminho para a Lagoa dos Sentinela e Caminho que vai pare São Cristóvão. No final do século XVII, à esquerda deste caminho, havia uma grande chácara que possuía uma bica para uso dos viajantes. Em conseqüência, passou a ser conhecido como Caminho da bica. Tortuoso, cheio de barrancos e atoleiros que dificultavam a passagem dos animais e muitas vezes os matavam, o Caminho da Bica mudou seu nome para Caminho (ou Estrada) de Mata-Cavalos. Em 1848, de estrada passou a ser rua. Tendo sido substituída aquela primitiva bica por um chafariz, em 1772, e sendo dotada de um outro, construído em 1817 por Paulo Fernandes Viena, além de ter sido aberta em terrenos altos e secos quando a maioria das ruas cariocas se constituía ainda em verdadeiros pantanais logo se transformou a Rua de Mata-Cavalos numa das preferidas da gente rica ou fidalga. Caracterizava muito bem a vida urbana dos anos 800, no Rio de Janeiro. De tal modo que Machado de Assis faz-lhe várias referencias em suas obras, localizando nela, entra tantos personagens, Capitu, a protagonista de Dom Casmurro, um dos mais discutidos romances da literatura brasileira.
Em 4\7\1875, numa homenagem "aos feitos brilhantes da armada nacional no dia 11 de junho nas águas do Paraná", durante a Guerra do Paraguai, a Câmara Municipal propõe a mudança do nome da Rua de Mata-Cavalos para Rua Riachuelo. Onze dias após, a proposta foi aprovada por portaria do ministro do Império.
Bastante ligada à vida do antigo Morro do Desterro, a Rua Riachuelo tem suas tradições e histórias. Antes dos bondes sobre os Arcos, era por ela que melhor se subia a Senta Teresa. Na altura da Rua Francisco Muratori de nossos dias, inaugurou-se, em 1883, um elevador pare Paula Matos, servido por uma torre de 38 m. Nas suas proximidades na Ladeira do Castro, ficava a estação do plano inclinado do Engenheiro Januário Cândido de Oliveira, que deu origem ao nome da travessa que faz a conexão entre a ladeira e a Rua Monte Alegre. Nesta, moraram e morreram o republicano Benjamim Constante e o Conselheiro Andrade Figueira, monarquista, preso em 1900 sob a acusação de chefiar uma conspiração contra a República. Em 1937, ainda na Rua Monte Alegre, foi edificada, pelos russos brancos, a Igreja Ortodoxa de Santa Zinaida. Quase na sua esquina com Riachuelo, o povo podia tomar banhos frios de cachoeira, numa casa famosa do Rio Antigo, com vasta chácara onde havia um pequeno jardim zoológico.
Ao tempo de Dom Pedro II, na Rua Silva Manuel (atual André Cavalcanti) ficava o consultório do Dr. Mateus de Andrade, médico que, em 1869, neste local e com a ajuda de seu assistente, Dr. Andrade Pertence operou a perna do poeta Castro Alves. Em 1870, Transferiu-se para a Rua Mata-Cavalo definitivamente, o hospital da Ordem do Carmo, fundado em 1773. Em 1930, a Rua Riachuelo assistiu a um crime político: um paraibano exaltado matou a tiros o Deputado João Suassuna, julgando-o responsável pelo assassinato de João Pessoa, no Recife.
O carnaval é a maior festa popular do Rio de Janeiro. E desde muito tempo a cidade tem as suas Instituições carnavalescas. Dentre elas, destaca-se o Clube dos Democráticos, fundado em 1867 e instalado, até hoje, na Rua Riachuelo. Foi ai, também, que, na primeira década deste século, Biase Labanca, juntamente com seu irmão João Augusto e seu primo José instalou um estúdio improvisado, uma das primeiras tentativas de filmagens cinematográficas no Rio.
Cortada a partir da Rua Riachuelo, na administração do Prefeito Henrique Dodsworth, a Avenida N.sra. de Fátima seria o principal logradouro do bairro a que deu seu nome. E foi no Bairro de Fátima que o General e Ministro Mendonça Lima fundou a sua Nova Igreja, ramo brasileiro da Igreja Nova Jerusalém. Simultaneamente, no número 267 da Rua Riachuelo tinha inicio a construção da Basílica de N. Sra de Fátima Obra Dom Orione, dos padres da Divina Providência.
Com a expansão da cidade para a Zona Sul, a velha Rua de Mata-cavalos há muito que deixou de ser nobre. Decadente, é área comercial e residencial a uma só vez. E daqueles tempos guarda apenas a memória estampada em poucas e fiéis edificações do passado.
Pela Rua Riachuelo circulam ônibus provenientes das Zonas Norte e suburbana, com destino ao centro e à Zona Sul, passando pelo Largo da Lapa e Passeio Público.
PONTOS DE INTERESSE
Clube dos Democráticos
"Oh! Abre ala Que eu quero passar".
(Chiquinha Gonzaga)
Situado no número 91 da Rua Riachuelo, destinada às comemorações carnavalescas, esta instituição centenária se caracteriza pelo desfile em carros alegóricos que realiza durante a "Terça-feira gorda" com seus associados trajando branco e preto. Mantinha permanente rivalidade com a sociedade congênere dos Tenentes do Diabo. Mais tarde, outras agremiações, tais como os Fenianos e os Pierrots da Caverna, entrarem em luta pelos primeiros lugares e Tornam-se igualmente adversários.
Modernamente, os desfiles das sociedades perderam seus prestigio de ponto máximo do carnaval carioca para as Escolas de Samba. Mesmo assim, continuam a sair às ruas, mantendo teimosamente a sua tradição